#49 - Meninas Malvadas, Jane Eyre, Fernanda Torres no Roda Viva
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 8 a 14 de janeiro de 2024 :)
📺Meninas Malvadas: Meninas Malvadas é um dos meus filmes preferidos da vida, e é muito louco pensar que já faz 20 anos que vi pela primeira vez esta pérola da cultura pop mundial, esta bíblia de girlhood. Quando fiquei sabendo que haveria uma nova versão do filme, fiquei apreensiva. Primeiro porque não precisava. Segundo porque fiquei com medo de este novo ser ruim/vergonhoso, tipo aquelas sequências que a gente finge que nunca existiram (pensando em você, Sex and the City 2).
No entanto, eu tenho muita fé nela: Tina Fey. Sou grande fã de Tina Fey desde o primeiro Meninas Malvadas e acreditei que ela não nos decepcionaria. De fato, Tina Fey é minha pastora e nada me faltará, pois adorei o novo Meninas Malvadas.
O lance é o seguinte: a história é fundamentalmente a mesma. Só que há mudanças pontuais na trama, no estilo do filme, e nos personagens. Basicamente o que muda é que ele foi atualizado para a geração atual de jovens e esta versão é um musical.
Então vamos por partes - contém spoilers, mas só se você nunca viu Meninas Malvadas original, aí você está equivocado e deve corrigir este erro imediatamente. Sobre a atualização. O que percebi é que tentam deixar a história mais “woke”, um pouco mais suave, com muito mais diversidade entre os personagens e algumas coisas mais claras na história. Por exemplo, Janis e Damian claramente já se entendem como lésbica e gay o tempo todo (aquele selinho estranho deles no final de Meninas Malvadas 1 não existe mais). Outro exemplo: a parte em que Cady finge não entender matemática para o Aaron ensiná-la. Tem uma cena em que é dito “Você vai se fazer de burra para um cara te notar??? Isso é idiota demais”. Ela não deixa de ser idiota demais, mas achei legal que o filme pontuou isso.
Tem também o destaque positivo da atriz que faz a Regina George, a Renée Rapp. Eu a conhecia por A Vida Sexual das Universitárias, em que ela era uma das protagonistas (triste que ela saiu da série para focar na carreira musical), já era muito boa. Além de ela fazer muito bem a personagem, achei legal ter sido ela a escolhida, uma atriz que não tá no padrão supermagra. Só fiquei com uma impressão de que a Regina George era mais má no filme original, mas pode ser só impressão.
Uma coisa que pega muito também é a questão das redes sociais. Achei que inseriram muito bem isso no filme, mostrando os personagens e elenco de apoio em diversos vídeos, numa forma de exemplificar como essa geração se comporta online e como as fofocas se disseminam. Um uso muito bem feito, um tanto assustador.
E aí chegamos ao musical. Eu não sou grande fã de musicais, mas também não sou hater. Gosto de alguns poucos (Hairspray, La La Land e High School Musical kkk) e não fazia a menor questão de que Meninas Malvadas fosse musical (apesar de ter tentado ingresso pra ver o espetáculo quando estava na Broadway e não ter conseguido). Masss as músicas são realmente boas! Foram escritas pela Tina Fey e o marido dela, que é produtor de trilhas sonoras —ele fez as de Kimmy Schmidt e Girls 5eva, por exemplo. Então as letras são muito boas mesmo. Eu pessoalmente tiraria umas duas músicas do filme, mas não achei que, de forma geral, comprometeram a experiência negativamente.
Enfim, resumindo: gostei bastante do Meninas Malvadas novo, dei muita risada, achei válido. Nunca será o Meninas Malvadas original, mas acho que essa é a minha opinião enquanto millennial. Me senti terrivelmente velha vendo essa nova versão, porque a minha adolescência já foi há quase 20 anos. Essa é a versão deles, e tudo bem —deus nos livre ser adolescentes neste mundo. O novo filme é bom e tem uma participação especial muito boa no final, vale super a pena ver.
📖Jane Eyre: Fiquei numa ressaca literária forte no fim do ano, li quase nada. Decidi começar o ano com uma ficção clássica, um livrinho de mais de 500 páginas. Tinha tudo para dar errado, mas deu certo porque foi Jane Eyre.
Jane Eyre foi lançado em 1847 e é de autoria de Charlotte Brontë, a mais velha das três irmãs escritoras Brontë. Eu já tinha ouvido falar deste livro há muitos anos, quando assisti ao filme Três Vezes Amor (amo!!!). A personagem April (Isla Fischer) tem uma história muito fofa com o livro, e desde então eu queria ler também, mas por algum motivo achei que seria perturbador, desconfortável.
Não é que não seja, mas é bem diferente do que eu pensava. Talvez eu esteja ofendendo mil conceitos da literatura inglesa, mas a sensação foi quase de ler Jane Austen, com a diferença de que a protagonista é mais pobre e mais sofrida (pleonasmo).
O livro originalmente se chamava A Autobiografia de Jane Eyre e é autoexplicativo; a narradora, que também é a protagonista, vai contando sua história desde a infância, como uma órfã, até a chegada a uma mansão onde ela vai trabalhar, e as relações que ali se desenvolvem, as tretas que saem disso.
Tem casos de família, tem romance, tem drama, tem reviravoltas. O livro me prendeu demais, fiquei muito envolvida pela personagem e suas escolhas. A escrita da Charlotte Brontë é realmente muito interessante; fiquei imaginando o mecanismo mental dela pra criar certos diálogos.
Uma coisa que me incomodou durante a leitura é que a história é muito permeada por religião; o cristianismo fazia muito parte da vida daquelas pessoas naquela época, então se torna meio que um personagem também. Eu entendo o contexto, entendo a história, mas internamente questiono certas escolhas baseadas no conservadorismo religioso.
E eu comprei a edição da Antofágica, que sempre traz prefácios e posfácios muito bons e nos ajudam a abrir a mente, ter outras perpectivas sobre a leitura. Neste caso, tem um posfácio que chama a atenção para uma personagem do livro que é meio que excluída (não vou dar spoilers), e é justamente uma pessoa que veio das Américas… é de se pensar. Mas, de forma geral, foi uma ótima experiência de leitura e conseguiu com louvor me tirar da ressaca literária.
📺Fernanda Torres no Roda Viva: Já falei aqui que sou muito fã de Fernanda Torres, acho que ela deu enormes contribuições para a cultura e o audiovisual brasileiros. Nesta semana, ela foi entrevistada pelo Roda Viva, e achei que isso também serviu como uma boa contribuição para o pensamento contemporâneo brasileiro.
Duas falas dela viralizaram. Uma foi sobre a juventude e a velhice, sobre como ela encara a vida enquanto se é jovem e o que veio com a maturidade. O que ela disse não é nada muito fora do que a gente pode já ter ouvido por aí, em relação ao tempo trazer mais calma e serenidade, sobre a juventude ser muito ansiosa, e etc. Mas achei legal a forma com que ela pontua as vantagens de se estar em cada um dos momentos de vida. Dá realmente uma paz, seja você jovem ou nem tão jovem assim.
E tem o momento em que ela fala sobre a branquitude, a galera de esquerda liberal e libertária, e em que estado este núcleo se encontra no momento. Fernanda lembra aquela resposta histórica de quando foi ao Roda Viva em 1992 e o Serginho Groisman perguntou: ‘Você tem algum preconceito?”, e ela disse: “contra crente”. Mais de 30 anos depois, ela revisita esta opinião, a atualiza, a complementa e adiciona mais camadas à enorme complexidade que é a sociedade brasileira (num recorte, obviamente, mas já bem complexo).
É claro que essa fala também foi problematizada, porque nenhuma opinião é absoluta e intocável, e acho que nem foi a intenção dela o ato de lacrar. Mas achei um posicionamento bastante lúcido e que abre caminhos para novos pensamentos produtivos. Ela também fala sobre a mãe (a maioral, Fernanda Montenegro), sobre suas experiências na TV, outros trabalhos, enfim. Um ótimo diálogo. Dá pra ver pelo YouTube ou ouvir pelo Spotify.
📺BBB 24: Vou tentar ser breve aqui porque sei que já falei demais nos tópicos anteriores. Estreou mais uma temporada do BBB, e eu sinceramente acho uma bênção. Logo no começo do ano já temos um enorme escapismo, uma fonte inesgotável de fofoca, vidas dos outros pra cuidar e opinar. Ser manipulado pela Rede Globo, gostoso demais.
Mas, falando sério, eu realmente gosto de acompanhar BBB e julgo um pouco quem torce o nariz simplesmente por preconceito. É claro que ninguém é obrigado de gostar ou acompanhar algo, mas o BBB domina a agenda pública, o assunto no país inteiro, além de ser uma ótima vitrine pra se observar um pouquinho de interações humanas, desequilíbrios emocionais, cultura e sociedade brasileiras, afetos e desafetos. É no mínimo curioso. Acho mesmo um conteúdo muito rico, além de fornecer muito entretenimento. Estou amando, por exemplo, a dupla Beatriz e Alane. Completamente doidas, mas um doidinho saudável. Me divirto vendo vídeos delas falando besteira.
Acompanhar as primeiras semanas de qualquer BBB é sempre muito bom, porque a galera tá muito pilhada, tá se conhecendo, tem muita gente e muitas possibilidades de tretas. Então recomendo, essa edição até o momento tá boa (lembrando que qualquer opinião sobre BBB pode mudar a qualquer momento).
Na arte aleatória da semana, novamente a minha falta de memória ataca, e eu confesso que eu não sei se já indiquei essa ilustradora aqui. Acho que não, mas o estilo dela se parece com o de outras artistas que eu curto, então não sei dizer. Mas adorei as obras da Hollie Startup e poderia dizer “literalmente eu” para muitas delas.
Boa semana =)