#58 - Cowboy Carter, podcast do Emicida, creme de pitaya
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 24 a 31 de março de 2024
💿Cowboy Carter: Eu já imaginava que o novo álbum de Beyoncé, chamado Cowboy Carter, seria grandioso, mas não estava contando que seria tão babilônico, incrível, extremamente excelente e brilhante assim. Não é que eu subestime a queen B; pelo contrário, eu acho que ela está tranquilamente num top 5 de maiores artistas vivos atualmente. Mas é que as expectativas já eram altas e ela as elevou absurdamente, chegou na voadora, estraçalhou tudo.
Só a ideia de ter Beyoncé fazendo música country já seria disruptiva, mas toda a história que vem em torno disso é ainda mais interessante. Ela contou (nas entrelinhas), num post do Instagram, que resolveu fazer este projeto após um episódio em que cantou com as Dixie Chicks no Grammy, em 2016, e o povo do country não gostou, teve gente até se levantando e saindo do recinto. Falta de educação, racismo.
Daí ela guardou essa raiva desse povo chulo e respondeu em forma de música. Mas não é só isso! A mulher deixou bem claro que este não é um álbum de country, é um álbum da Beyoncé. Na prática, o que podemos ouvir é uma mistura de gêneros, um trabalho primoroso de amálgama de referências, de produção supercomplexa, de histórias, de talentos. Eu fiquei completamente mindblowed das ideias, achei tudo neste álbum genial. Ela não é boba nem inocente e acertou demais.
Meus destaques: obviamente gostei muito de Blackbird e Jolene. Ambas têm o dedo de Beyoncé, ela não só fez cover. Blackbird é uma música feita por Paul McCartney em referência ao movimento negro, de direitos civis e raciais nos Estados Unidos nos anos 1960, então achei muito legal a Beyoncé agora pegar essa música e ressignificá-la —a versão dela ficou Blackbiird, com um i a mais. Ela canta com outras quatro mulheres negras, tipo uma “nova formação” dos Beatles (muitas aspas, claro). Concordo muito com a visão do crítico de música da Rolling Stone sobre este renascimento de Blackbird.
E Jolene, putz. Primeiro tem a introdução da Dolly Parton, que já é tudo. Daí tem a nova versão de Jolene. Na original, a música é tipo “Jolene, você é linda e eu sou uma pobre coitada, por favor não roube meu homem”. Já na versão de Beyoncé, é tipo “Jolene, sua piranha, tira o olho do meu homem ou cê tá fodida na minha mão”. Amo as duas, mas achei divertido esse revisionismo de Beyoncé. Sororidade sim mas nem sempre, né, errada não tá.
Gostei muito também do dueto de Beyoncé com Miley Cyrus!!! Eu não sabia que precisava ouvir as duas juntas até ouvir as duas juntas, achei incrível. O feat. com Post Malone achei bom também, uma faixa mais levinha. Entre as minhas preferidas, estão ainda Daughter, Flamenco (o único defeito foi não ter tido parceria com a Rosalía nessa), II Hand II Heaven e Ya Ya.
Não sei mais o que dizer, estou escrevendo com os pés pois com as mãos estou aplaudindo Cowboy Carter. Se não derem o AOTY pra ela por esse, tem que prender todo mundo no Grammy — e eu sei que tem álbum da Taylor pra sair mês que vem também e sei que será minha bíblia pessoal. Ainda assim eu acho que esse álbum da Beyoncé é absurdo. Ela merece e não é de hoje, e ao mesmo tempo ela já é muito maior do que qualquer coisa, qualquer grupo de jurados, qualquer instituição falha.
🎧Podcast do Emicida: Falando em produtos excelentes, temos o podcast do Emicida, Sambas Contados. Emicida basicamente dá aulas sobre samba e história da música e do Brasil ao nos contar a história do samba por meio de importantes sambistas, baluartes do gênero e ícones de brasilidade.
Quem já ouviu, leu ou assistiu alguma entrevista, palestra, papo com o Emicida sabe que ele tem bagagem cultural muito ampla e que um assunto nunca fica limitado só àquilo. Ele sempre expande as raízes, e uma coisa vai puxando a outra. Isso acontece em Sambas Contados de forma muito interessante.
Por exemplo, para falar de Tia Ciata, uma das pioneiras do samba, ele fala sobre a questão do quintal, da origem dos quintais e da importância deste espaço na criação de música, de comunidade e de sobrevivência de povos e culturas marginalizados (principalmente o povo preto).
Há outro episódio em que ele relaciona o samba com um artista de história em quadrinhos judeu nos Estados Unidos, outro em que fala do samba de Adoniran Barbosa e o que ele diz sobre a história da cidade de São Paulo, os guetos e quilombos daqui. É aula mesmo, mas de um jeito muito bem contado, um jeito delicioso de ouvir. Gosto muito também de ver o Emicida fã, de como ele exalta seus ídolos e os reverencia.
Maratonei os cinco primeiros enquanto fazia faxina em casa e gostei demais. Lição de casa pra todo brasileiro que se interessa por seu país. Todos os dez episódios estão disponíveis nas plataformas de áudio.
🎥Nada Será Como Antes - A Música do Clube da Esquina: Fiquei na dúvida se incluiria este tópico aqui, porque eu gostei mas não amei. Assisti ao documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube da Esquina, lançado nesta semana, sobre a história do Clube da Esquina. Eu gosto muito de Milton Nascimento e um tiquinho menos de Clube da Esquina, mas esperava um pouco mais do documentário, não sei. Acho que foca muito na parte musical (de criação de melodias, notas, letras) e talvez eu quisesse saber mais de histórias, encontros, causos da banda. Enfim.
Mas, pra quem é fã, não deixa de ser um material valioso. Tem depoimentos dos membros, incluindo do Milton Nascimento —o documentário foi gravado há alguns anos, ele aparece mais jovem e falando com mais facilidade do que tem tido atualmente. É interessante ver o Lô Borges andando pelas ruas de Belo Horizonte e contando onde eles se conheceram, histórias de infância e adolescência.
Há ainda muita imagem de arquivo, entre vídeos e fotos, o que eu sempre gosto muito de ver. Me fez pensar que Milton Nascimento e o Clube da Esquina dariam uma boa exposição no MIS. Espero que role um dia. E vale também pelas músicas que tocam ao longo do documentário, em belas versões.
Nada Será Como Antes - A Música do Clube da Esquina está em cartaz em poucas salas de cinema. Imagino que em breve deva entrar para alguma plataforma de streaming.
🎧Volta do Wiser than Me: Falei do Wiser than Me se não me engano na primeira edição desta newsletter. Como já faz um tempinho e a maioria dos assinantes não estava aqui na época, vou falar de novo.
Wiser than Me é um podcast da Julia Louis-Dreyfus (amo) no qual ela conversa com mulheres famosas, mais velhas e mais sábias do que ela. A primeira temporada é uma delícia: nos episódios, ela papeia com Fran Lebowitz, Isabel Allende, Jane Fonda, entre outras divas. Agora, nesta semana, estreou a segunda temporada, o que me deixou muito feliz.
O primeiro episódio é com Sally Field e é ótimo. É engraçado como eu, com 32 anos, consigo me relacionar tanto com as questões levantadas pela Julia (de 63) quanto pelas questões da Sally (de 77). É claro que os meus problemas não são os mesmo que os delas (inclusive se eu tivesse o dinheiro delas eu não teria 90% dos meus problemas), mas em algumas coisas a vivência feminina quase sempre se intersecciona. Sally conta, por exemplo, de situações machistas que já viveu e que nunca teve muita sorte em relacionamentos amorosos com homens. Não estamos todas no mesmo barco, mas às vezes nos afogamos nas mesmas águas turvas.
De forma geral são sempre conversas interessantes e enriquecedoras, eu recomendo demais. Wiser than Me tem episódios semanais nas plataformas de áudio.
🥣Creme de pitaya: Postei uma foto do meu creme de pitaya esta semana nos stories do Instagram e deu tanta curtida que resolvi trazer pra cá também. A princípio eu não achei que fosse grande coisa porque todos sabemos que pitaya é um negócio que tem gosto de absolutamente nada. Vive totalmente de aparência, assim como algumas pessoas que conhecemos. Mas, assim como algumas pessoas que conhecemos, às vezes a gente dá uma atenção especial pois tão bonita, né.
Como estava muito calor esses dias, eu comprei pitaya pra fazer sucos e cremes. A cor dela dá uma coisa aesthetic, um estímulo ao consumo de frutas. O creme dá até pra deixar no freezer e consumir como sorvete, fica tudo. Vamos à receitinha:
1 pitaya grande (ou duas pequenas) congelada
1 banana congelada
100 ml de leite (usei integral, mas vai da sua preferência)
A receita é muito fácil, mas exige um pré-preparo. Eu piquei as frutas antes e as deixei guardadinhas no freezer pra usar depois —isso ajuda também a evitar que estraguem na fruteira. Na hora de fazer, é só jogar a banana e a pitaya congeladas no liquidificador, adicionar o leite e bater. Rende uma porção grande, que pode ser dividida em duas se a sua fome for menor. Eu gosto de comer esse creme puro, bem geladinho, ou adicionar granola e manga. Aí fica uma refeição bem refrescante, tropical, colorida. Não vejo necessidade de adoçar, mas, se preferir, acho que um melzinho fica show também. Aproveite!
Na arte aleatória da semana, deixo aqui a indicação do trabalho da Millie von Platten. Ela é ilustradora e cartunista, e eu conheci o trabalho dela em artes do New York Times. Essa ilustração abaixo, por exemplo, foi publicada num caderno literário do jornal e representa um banquete dos sonhos com autores famosos. Tente descobrir quem é quem (tem meio que um gabarito aqui).
Boa semana =)