#60 - Dias Perfeitos, Ioga, torrada de cheesecake
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 8 a 14 de abril de 2024
🎥Dias Perfeitos: Corri para assistir assim que entrou no catálogo do Mubi, na sexta (12). Dias Perfeitos é mesmo tudo isso que disseram: um filme muito sensível, muito bonito, que dá um olhar carinhoso e cuidadoso a um dia a dia aparentemente banal.
O filme tem como protagonista Hirayama (Koji Yakusho), um homem que mora numa casinha bem simples e trabalha limpando banheiros públicos em Tóquio. A produção vai mostrando dia após dia dele e suas atividades. Acordar, dobrar o edredom, colocar o uniforme, comprar uma bebida na máquina, dirigir até os locais de trabalho, limpar vasos sanitários, pisos e espelhos, tirar umas fotos de árvores no horário de pausa, voltar, ir tomar banho, comer/beber alguma coisa, ler um livro, dormir, sonhar.
Ao longo de duas horas de filme, acompanhamos cerca de duas semanas na vida de Hirayama e pouco ouvimos sua voz. Ao mesmo tempo, é muito fácil gostar dele, acreditar que ele é um homem bom, que tá lá vivendo sua vida na paz, sem fazer mal a ninguém, sem grandes ambições. O que ele gosta é de ler e ouvir músicas —tem uma coleção de fitas k7 em seu carro, de artistas como Otis Reading (amo), Patti Smith (amo!!), Lou Reed.
O espectador vê Hirayama passando por dias bons e não tão bons, observando interações das pessoas e também desenvolvendo algumas poucas relações. Pra mim o ponto alto do filme são os dias que ele passa com a sobrinha adolescente. Um pouco porque é bonito, há conversas muito legais entre eles, e um pouco porque descobrimos um outro lado do personagem, que fica meio escondido em meio à rotina pacata dele. Descobrimos que ele já teve uma outra vida, diferente, antes de chegar aos dias tranquilos.
Sendo sincera, não li muito material sobre o filme nem pesquisei mais profundamente sobre o diretor, as intenções dele. Não sei se Dias Perfeitos foi interpretado como, sei lá, uma exaltação de uma vida pacata de alguém que abdica das doideiras do capitalismo tardio. Mas pra mim, que tenho vivido dias puxados, foi uma ótima experiência assistir a duas horas de um cara legal vivendo seus dias não exatamente perfeitos, mas suficientemente interessantes, com aquela sensação de “foi um dia bom”.
E os takes de Tóquio, da vida na cidade, dos detalhes do dia a dia, das ruas, praças, restaurantes. Que vontade de ir! Deus, se for de sua vontade, sua filha está pronta.
🎥Evidências do Amor: Agora um filme absolutamente nada a ver com Dias Perfeitos, mas que eu também adorei!! Confesso que fui assistir a Evidências do Amor achando que tinha grandes chances de ser uma bomba, mas saí achando perfeito no que se propõe a ser: uma comédia romântica brasileira contemporânea, divertida, daquele tipo de filme “para toda a família” que vai estar daqui a pouco passando num domingo à tarde na Globo.
Evidências do Amor também é conhecido como o novo filme da Sandy, ou o filme da Sandy com o Fábio Porchat. Os dois interpretam um casal que, após três anos juntos, se separam meio de repente, quando ela decide romper o noivado. Ele fica arrasado, mas sobrevive. Só que, um ano depois, ele começa a ser vítima de um evento sobrenatural: toda vez que toca a música Evidências, o personagem de Fábio volta no tempo e revê situações de tensão entre o casal —brigas, problemas. A ideia é ele voltar no tempo para entender onde errou.
Me surpreendeu um pouco o fato de ser um filme bem propositalmente “woke”, no sentido de colocar o homem protagonista como um anti-herói e obrigá-lo a se ver como o errado da história. Geralmente nas comédias o homem é sempre o coitado, ou o atrapalhado, ou o engraçadão, tipo o cara que não presta atenção nas coisas nem faz o que tem que fazer porque “é o jeito dele”. Não que o Porchat não faça esse papel neste filme também, mas achei que não fica tão raso, que o roteiro realmente se esforça pra fazer um homem rever e admitir seus erros. O que, como é pontuado no filme e como sabemos que é na vida, raramente, raríssimamente acontece.
Resumindo: ri muito, chorei também, achei que vale a pena assistir. Tem a Sandy, que sinceramente eu acho que fica devendo aí no carisma, pode continuar só como cantora mesmo. Mas também acho que não compromete a experiência geral do filme. Se você tem preconceito com produções populares nacionais, eu não julgo totalmente, porque tem umas que realmente… Mas essa eu adorei e recomendo de verdade.
📖Ioga: Comecei a ler este livro por causa do meu clube do livro e o pessoal já foi com medo dele, porque trata de temas pesados, e o mundo já está muito pesado, e etc. Sim, então já deixo aqui registrado que o livro aborda questões de saúde mental e desce num lugar bem pesado neste tema, então, se você tiver gatilhos relacionados a isso, pode pular para o próximo tópico.
A minha experiência com o livro Ioga foi como de observar tudo à distância. É um livro que fala sobre ioga, mas também não é exatamente sobre ioga. Vamos por partes.
Ioga foi escrito em primeira pessoa por Emmanuel Carrère, um jornalista e escritor que pratica ioga há décadas. O livro começa com ele indo para um retiro de ioga, com o objetivo de fazer suas anotações e escrever um livrinho bonitinho sobre este assunto apenas (isso ele mesmo diz). A ioga da qual ele trata, no entanto, não são bem os exercícios, a atividade física ioga. É mais a meditação, a filosofia oriental, o estilo de vida. Ele fala sobre ficar duas horas sentado meditando, sobre as vritti, que são os pensamentos na cabeça que tentamos acalmar com a meditação. A primeira parte do livro é bem estilo meditação para leigos.
Mas aí acontece um monte de coisa que vira o mundo dele de cabeça pra baixo. Carrère tem que sair às pressas do retiro de ioga quando acontece o atentado ao Charlie Hebdo, em que um conhecido dele morre. Depois tem um colapso mental, fica internado num hospital psiquiátrico. Depois vai dar aulas para meninos refugiados. É um período de uns dois anos bem intenso na vida dele, relatado ao longo de umas 260 páginas.
O que eu mais gostei de Ioga é justamente a escrita do autor. Dá pra perceber que ele tem carisma. Carrère escreve muito bem, de um jeito que te envolve e te deixa interessado, ao mesmo tempo que é muito lúcido, honesto, não floreia, é espirituoso, te faz gostar dele mesmo sabendo que ele não é exatamente uma pessoa fácil. Acho que este é o grande trunfo e o que faz de Ioga um livro tão bom. Recomendo mesmo pra quem não tem interesse algum por ioga (eu mesma não tenho).
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💿Older: Sou grande fã da jovem cantora Lizzy McAlpine, adoro as músicas dela com umas vibes tipo triste/com tesão, adoro a voz dela. Semana passada, Lizzy lançou um novo álbum, chamado Older.
Acho que segue um pouco da mesma pegada do álbum anterior dela, five seconds flat (que eu amo, é daqueles de ouvir todas as músicas sem pular), mas um pouco mais reflexivo, menos astral. Older, né.
Ainda estou me acostumando e ouvindo cada músicas, mas até agora minha favorita absoluta é I Guess. Também gosto de The Elevator e Staying.
🍞Torrada de cheesecake: Essa é só uma diquinha; nem chega a ser uma receita porque não tem muito o que receitar. Mas fato é que eu não gosto de comer a mesma coisa todo dia no café da manhã, então vivo inventando moda. Ultimamente tenho gostado de brincar de torrada cheesecake.
Basicamente consiste em pão com creme de ricota (ou requeijão, ou cottage, ou cream cheese, o que você preferir) e geleia. Coloco o pão na sanduicheira pra dar aquela tostadinha (pode fazer na frigideira também), em seguida passo uma camada do creme de ricota e dou o toque final com a geléia. Não tem como ficar ruim. Isso aliás me lembra que faz tempo que tô querendo fazer um sanduíche romeu e julieta aqui em casa. Vem aí.
Novamente eu estou na dúvida se já indiquei essa artista aqui ou não, mas gostei da ilustração, então vamos lá. Hoje trago a Iulia Bochis, que faz um trabalho bem suave com sutis frases motivacionais.
Boa semana =)