#33 - Jury Duty, A Outra Filha, como fazer pumpkin spice latte
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 11 a 17 de setembro de 2023 :)
📺Jury Duty: A primeira vez que ouvi falar dessa série foi após a indicação dela ao Emmy deste ano (que só acontecerá de fato no ano que vem, por causa da greve dos atores) de melhor comédia. Mas não tinha ideia do que se tratava e das dimensões completamente malucas dela até começar a assistir.
Há algumas camadas. Jury Duty (ou Na Mira do Júri, o título versão brasileira) é uma série estilo mockumentary (quando há entrevistas como se um documentário estivesse sendo feito, o que acontece em The Office e Parks & Recreation, por exemplo) que se passa em meio a um julgamento em Los Angeles, nos Estados Unidos. Coincidentemente, dias atrás uma amiga minha advogada comentou comigo que nos EUA eles fazem júri popular pra qualquer coisa. Aqui no Brasil, cidadãos são convocados pra fazer parte de júris apenas em casos de crimes contra a vida, mas nos EUA podem ser chamados para processos variados, menos graves.
Na série, o caso parece algo bem desinteressante, um processo de uma empregadora contra um empregado que ela acusa de ter prejudicado a empresa com um erro (estou falando bem por cima para não dar spoiler). A trama começa mostrando a seleção de participantes do júri popular que deverá acompanhar o julgamento e decidir sobre o caso.
Até aí tudo bem. Só que este não é um júri comum. Tudo é falso, é ficção, menos uma coisa. Um dos cidadãos deste grupo de júri não é um ator, é uma pessoa real, o Ronald. Ele acha que foi convocado de fato pra fazer parte do julgamento e que as câmeras e entrevistas são para a gravação de um documentário sobre um júri americano. Ou seja, fica um negócio meio Show de Truman, em que todo mundo ao redor do Ronald está atuando, só ele não sabe.
É surreal pensar em tudo que acontece. Os atores seguem roteiro, há situações absurdas que acontecem, mas ao mesmo tempo eles também têm que improvisar o tempo todo quando dialogam com Ronald, porque ele não tem roteiro, ele não sabe de nada. A série só funciona, aliás, porque o casting do Ronald foi perfeito. Ele é o ultimate homem básico. Um cara que usa umas camisas polo, tem rosto comum, um emprego comum, uma vida comum. Mas ele também é extremamente bonzinho e gente boa e correto. É tudo muito bom.
Fazia muito tempo que eu não ria tanto com uma série. Ela foi criada por dois redatores de The Office, então vai meio nesta linha de comédia. No primeiro episódio, eu me escangalhei de rir, chorei de rir. Destaque para o James Mardsen, que interpreta a ele mesmo, mas uma versão exagerada dele mesmo - ele faz um ator deslumbrado, que se acha muito famoso, muito importante. Numa cena do primeiro episódio, por exemplo, ele diz que não pode participar do júri porque já foi jurado em outra situação. O juiz pergunta onde, e ele: em Cannes. Juro, eu rio só de lembrar.
Pra mim, Jury Duty já é uma das melhores coisas que aconteceram na TV neste ano. É absurdamente boa. Este link dá mais detalhes sobre a produção da série (o último episódio também dá). Jury Duty está disponível no Prime Video e tem oito episódios curtinhos, de até meia hora cada. Preciosidade.
📖A Outra Filha: Saiu mais um livro de Annie Ernaux no Brasil, chamado A Outra Filha. Eu não sou crítica literária, não pretendo fazer uma análise aqui, mas vou dar uma perspectiva da minha percepção e minha experiência com este livro e com as obras dela. Recomendo que procurem saber mais em fontes especializadas também.
O que eu sinto sempre que começo um livro de Annie Ernaux é que aparentemente ela vai falar de algo muito banal de uma forma bem direta. E eu amo estes dois aspectos. Fico puta da vida quando alguém critica o fato de ela ou algum outro escritor escrever de forma simples, sem rodeios, só dizendo o que quer dizer de forma rápida e coesa, sem florear. É claro que na literatura, assim como em qualquer outro campo artístico, há escolhas. O autor pode escolher escrever “fácil”, escrever “difícil”, entre outras inúmeras características, e uma obra não será necessariamente melhor ou pior exclusivamente por isso. Mas acho importante pontuar que é muito difícil escrever de forma fácil. Pegar um livro e sentir que ele flui, conversa, dialoga, expõe muito bem uma coisa ao leitor e não faz a pessoa ter que voltar na frase anterior e ler de novo pra entender é fruto de um bom trabalho do autor (e do editor, do revisor, da galera da editora).
Dito isso, A Outra Filha me surpreendeu posivitamente. Eu já sabia o que esperar do estilo simples e direto de Annie Ernaux, mas não sabia o que viria neste livro. Ela fala sobre a descoberta de que tinha uma irmã mais velha, que morreu antes de ela nascer, vítima de difteria. Annie só descobriu que essa menina existiu ao ouvir uma conversa da mãe com uma outra mulher, em que a mãe se emocionava a falar da filha mais velha e dizia que Annie não era tão boazinha quanto a irmã.
E aí é que a coisa pega. Annie começa a refletir sobre como a gente é o que a gente é diante da visão do outro, sobre como a perspectiva do outro nos influencia. Ela cresce pensando que a irmã dela era a boazinha, e ela portanto seria o contrário, reflete sobre as dificuldades disso. Ao mesmo tempo, todo o livro é escrito como se fosse uma carta à irmã morta, e a autora cria suposições, do tipo: estou escrevendo isso para te ressuscitar, te dar vida novamente de alguma forma, ou para te enterrar de fato, para que você deixe de existir nas sombras?
Não quero estragar a sua experiência como possível leitor, mas realmente achei as reflexões muito boas mesmo, vira uma coisa bem psicanalítica mas sem ser chata, sem ficar teórica ou patológica. Me peguei pensando também sobre essa questão da filha boazinha, sobre como é um fardo pesado tanto ser de fato a filha considerada boazinha, aquela que é um exemplo, que não dá trabalho, quanto não ser isso, se sentir errada, errante, sempre criticada por não atender às expectativas. A gente pode até circular entre estes dois estereótipos (com frequência o fazemos), mas volto à questão de existir sob o olhar do outro, e como o olhar do outro nos molda, nos atinge, mexe conosco.
Enfim, achei muito bom mesmo. Mais uma vez comecei achando que leria rapidamente uma história de poucas páginas e saí pensando muitos pensamentos e sentindo muitos sentimentos. No meu pódio de livros de Annie Ernaux, agora estão: Paixão Simples reinando imbatível em primeiro lugar, O Acontecimento em segundo e A Outra Filha em terceiro. Na última página, aliás, ela dá uma reviravolta e explica o porquê de este livro existir. Incrível.
🧴Creme Cerave: Já faz um tempo que venho observando o hype de dois cremes hidratantes nas redes sociais, o Cerave e o Cetaphil. Aquelas coisas que existem há tempos, mas as pessoas começam a fazer um zumzumzum sobre, e quando você vê virou hype. Também já tinha um tempo que eu queria trocar de hidratante, porque o tempo bizarro de SP vinha deixando minha pele bem seca ultimamente, de um jeito que tava realmente ruim, nem o óleo hidratante combinado com o creme tava dando muito certo.
Aí resolvi que não dava mais e investi no Cerave (pelo simples motivo de estar com desconto na farmácia, e o Cetaphil não). Achei que realmente entregou tudo o que promete.
Não vou mentir, a textura não é a melhor do mundo. É bem cremão, denso; a sensação logo após a aplicação não é a mais gostosa. Eu prefiro hidratantes em loção, que são um pouco mais fluidos, mas enfim —tem a versão em loção do Cerave, mas é um tipo de embalagem que fica difícil pegar o produto quando chega no final (ou eu sou só chata mesmo). Mas vale a pena porque, alguns minutos depois, a pele já é outra. Fica muuuuuito macia mesmo. Vi o comentário de alguém no Twitter dizendo que a pele fica uma seda, e acho que não, fica melhor do que seda. Estou aqui vira e mexe passando a mão na minha própria perna só pra sentir este novo nível de maciez alcançado. Além disso, com pouca quantidade dá pra espalhar bem, então acho que é um bom custo-benefício. Para quem estiver precisando de/procurando um hidratante, esse é bom mesmo.
🎹Tocar um instrumento: Esta é uma história sobre como é um absoluto inferno ter lua em gêmeos e querer fazer tudo e também é mais uma história sobre como o olhar do outro nos influencia. Uma vez, quando eu tinha uns 11/12 anos, mais ou menos, eu fui a uma cardiologista porque eu estava tendo um pouco de taquicardia (tenho até hoje, por diversos fatores, como stress e tomar café. Eu sempre fui emocionada demais). Nesta consulta, lembro que ela comentou que meu coração era um pouco mais “magro”, mais esguio do que a média (coitado, ele sofre), e que minhas mãos têm dedos finos, “mão de pianista”.
Eu sempre achei muito bonito tocar piano, mas depois de ouvir isso eu pensei “poxa, então quero usar minhas mãos de pianista para tocar piano”. O ano era 2003 ou 2004 e minha família não tinha muito dinheiro, então minha mãe arrumou não sei com quem um órgão antigo de igreja pra eu tocar. Só que o som era (surpreendendo ninguém) de órgão de igreja, e eu não gostava mas nem cogitava a possibilidade de pedir um piano. E também, verdade seja dita, eu não estava muito a fim de me dedicar a sério e frequentar uma escola de música na qual eu teria aulas de fato. Então tudo passou. Pensei que eu poderia aprender a tocar piano quando eu fosse mais velha (leia-se aposentada) e tivesse tempo livre.
Corta para 2023. Eu ouço muito Taylor Swift e tinha vontade de aprender a tocar as músicas dela num piano, mas me parecia um sonho muito distante por vários fatores, como tempo, dinheiro, falta de habilidade.
Porém, as coisas foram parecendo menos impossíveis. Comentei que gostaria de tocar as músicas da Taylor no piano e amigas super me incentivaram, disseram que eu conseguiria, sim (aqui vou agradecê-las nominalmente, Dani, Let e outra Dani!!!). Combinado a isso, no início do ano eu soube que era possível alugar instrumentos musicais. Pesquisei, e o preço é bem mais viável, mas ainda assim também falei com um vizinho que conseguiu arrumar um teclado para mim por um preço mais módico. Para completar, eu estou passando férias em casa, e pensei aquele pensamento perigosíssimo: por que não????
E foi assim que há uma semana eu peguei o teclado, dei play em tutoriais no YouTube e comecei a tocar. No comecinho foi beem difícil; minhas mãos doeram, minhas costas doeram, me senti perdida e burra. Ainda estou bem no início, mas sinto que a prática já ajuda absurdamente. Consegui tocar minha primeira música inteira, que não coincidentemente é uma das minhas preferidas da vida: the 1, da Taylor. Sigo errando bastante, mas menos do que antes e muito animada. A sensação de conseguir tocar um acorde, um refrão de uma canção que você ama é indescritível. Deixo de coração meu incentivo pra que você corra atrás de aprender a tocar qualquer coisa, se tiver essa vontade. É como Caetano Veloso a cantou no final da música Tigresa: “como é bom poder tocar um instrumento”.
🎃Pumpkin Spice Latte: Aqui eu vou soar pernalonga de batom (também pode ser que soe cafona), mas peço desculpas desde já e vamos lá. Em 2014, eu morei em Nova York e eu pude ver como o americano é realmente muito investido nessa coisa de estações do ano. O outono é a minha preferida, e o outono em Nova York lá é foda, não tem o que dizer. As folhas caídas no Central Park, as abóboras na frente dos mercados (e das casas, nas decorações de Halloween), e ele, a estrela: o pumpkin spice latte.
Não sei quem foi que teve esta ideia de misturar abóbora com café com leite, mas funciona incrivelmente bem. O sabor das especiarias com o docinho da abóbora e do açúcar, putz. Podem dizer que eu voltei americanizada, tal qual Carmen Miranda, mas eu amo e celebro o pumpkin spice latte. Tanto que fiz questão de aprender a produzir isso em casa.
Em resumo, pumpkin spice latte é café com leite e xarope de pumpkin spice. É possível comprar o xarope de pumpkin spice pronto, e se esta for a solução pra você, show, pode pular os próximos parágrafos. Mas eu queria algo que fosse mais natural, com ingredientes que eu sei o que são e um produto final menos artificial. Também queria algo mais acessível, tanto em preço quanto em facilidade de encontrar os ingredientes. Então segue receita, vou explicar:
Cerca de 150 gramas de abóbora picada (a abóbora é aquela bem laranja mesmo, usada para doce de abóbora. NÃO usar abóbora cabotiá!! Eu não usei uma medida exata, mas não é muito importante. Essa abóbora vai ser transformada em purê, então algo entre 150-200 gramas é mais do que suficiente.
1 xícara de açúcar mascavo
1 xícara de água
Pitada de sal
1 colher de chá de extrato ou aroma de baunilha
1/2 colher de sopa de “pumpkin spice”
No pumpkin spice é que chegamos ao “problema”. Aqui no Brasil, não é tão fácil encontrarmos tempero pronto chamado pumpkin spice, que já é um conjunto de especiarias utilizadas para preparo de coisas com abóbora lá nos EUA, como latte e torta. Eu fui atrás num mercado cheio de importados aqui e o encontrei, mas achei bem caro. E a lista de especiarias contém coisas que conseguimos achar facilmente em qualquer mercado grande, então a minha dica é: faça seu próprio pumpkin spice!!!
Os ingredientes de um pumpkin spice tradicional são: canela, noz moscada, cravo da índia, pimenta e gengibre em pó. Eu por exemplo não gosto muito de cravo, então coloquei apenas um cravinho. Também fui bem comedida na pimenta e no gengibre. Mas você pode misturar o que quiser e colocar mais ou menos de um ou outro ingrediente, até formar sua própria misturinha.
Modo de fazer o xarope: primeiro, precisamos transformar a abóbora em purê, porque aqui não vende purê de abóbora em lata, como nos EUA. Mas é fácil. Só colocar a abóbora picada numa panela com um pouquinho de água (tipo 1/3 de xícara). Fogo médio-baixo, a abóbora vai amolecendo e soltando água dela mesma. Vá mexendo uns minutinhos até sentir que já dá pra amassar. Quando estiver molinha, amasse tudo o máximo possível (aquele utensílio de fazer purê de batata serve bem). Reserve meia xícara deste purê (não precisa ficar lisinho, você não vai comer esta abóbora).
Na sequência, junte numa panela o purê de abóbora, o açúcar mascavo, a água, o sal e as especiarias. Em fogo médio, deixe cozinhar por dez minutos, sempre mexendo. Quando chegar neste tempo, desligue o fogo e deixe esfriar por 15 minutos. Não mexa e respeite os 15 minutos! Só então entre com o extrato ou aroma de baunilha e misture. Coe bem e tá pronto. Pode ficar armazenado numa garrafa ou pote bem vedado por um mês na geladeira.
Para fazer o pumpkin spice latte, eu uso: 200 ml de leite integral (pode ser trocado por leite vegetal), uma dose de café expresso e uma colher de sopa de xarope de pumpkin spice. Acho que o sabor fica bem suave, então se você quiser mais forte pode usar duas colheres. Mas é isso, fica beeem bom e dá pra economizar uma graninha (só um desse na Starbucks tá custando no mínimo R$ 17). Espero que gostem =)
*a receita original eu vi neste post e adaptei para terras brasileiras.
Já escrevi absurdamente demais, vamos terminar então com a arte aleatória da semana: destaco o trabalho da Beatriz Brazza, que faz ilustrações com reflexões e anedotas da vida adulta.
Boa semana =)
Adorei que foi um pouquinho mais longo e me identifiquei na lua em gêmeos 🥲 passando pra sugerir vc tocar a intro de “eu sei de cor” da Marília Mendonça kkk pq não?
Meu sonho também é saber tocar um instrumento então vou considerer que seu texto foi um sinal pra eu finalmente investir em uma aula de teclado..Não sabia que a série era dos mesmos criadores de The Office, irei dar uma chance :)