#51 - True Detective, Enredos da Liberdade, a arte do xingamento
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 29 de janeiro a 4 de fevereiro de 2024 :)
📺True Detective: Após assistir a A Morte entre Outros Mistérios (falei sobre isso aqui na edição anterior), me deu vontade de ver mais produções de crimes, detetives, assassinatos. Resolvi encarar True Detective, que nunca tinha visto antes pois 1) achava muito masculino, sérião e 2) achava que podia dar medo. Eu sou medrosa e impressionável, falarei mais sobre isso.
O resultado é que estou amando a nova temporada de True Detective!! A série é uma antologia, ou seja, cada temporada tem uma história diferente, independente. Então você pode assistir à quarta temporada (a atual) sem ter visto as outras, que é o que estou fazendo.
Alguns pontos me chamaram a atenção na quarta temporada e me fizeram ter vontade de ver. Pela primeira vez, as protagonistas detetives são duas mulheres, interpretadas pela Jodie Foster e pela Kali Reis. Elas não se dão muito bem, têm suas questões, mas se unem pra investigar o sumiço de cientistas de uma organização no Alaska. Ao que tudo indica, o caso está ligado ao assassinato de uma ativista indígena que aconteceu anos atrás e nunca teve resolução.
Tudo nessa temporada tá bastante energia feminina. As protagonistas, os dramas, as coadjuvantes, a direção, os olhares. Muita coisa da trama é relacionada a existir neste mundo como mulher, e eu acho que tem mais coisa encoberta que ainda vai surgir sobre isso (aí é apenas suposição minha, mas veremos). Tem me agradado bastante. E as mulheres retratadas na série estão longe de serem perfeitas. A personagem da Jodie Foster tá cheia de problema. Às vezes você gosta dela, às vezes você acha ela uma escrota. É nossa anti-heroína.
Outra coisa muito interessante é o fato de se passar no Alaska, no inverno, num período em que não há mais luz do sol, os dias são na escuridão. Os personagens vivem o tempo todo de noite, o que, pra a gente que mora no Brasil, é totalmente maluco. E dá também um clima muito mais sombrio, confuso, não dá pra saber que horas são. Muito doido.
A minha barreira em relação a série era não saber se era muito assustadora ou não. Cheguei a dar um google em “True Detective é de espírito”, e só tive respostas inconclusivas kkk. Eu não vejo nada de terror, não gosto, não me entretém, acho as pessoas completamente malucas por mexerem com negócio de espírito, tenho opiniões que não vou aprofundar aqui. Mas dei lá uma chance a True Detective. Achei pesado mas não tanto, não insuportável. Tem cenas um tanto brutais de assassinato, corpos, até possessão, mas dá pra aguentar, existe coisa muito pior. Ainda assim, estou assistindo de dia ou de luz acesa, pois cagona.
Mas estou adorando, a cada episódio fico louca pra assistir ao próximo. E amei a vinheta de abertura com a música bury a friend, da Billie Eilish. Ficou perfeita. 10/10 em tudo, tá na HBO Max, um episódio por semana.
📺Enredos da Liberdade - O Grito do Samba pela Democracia: Não sou grande conhecedora de samba enredo e história das escolas de samba, mas sou grande consumidora de Rede Globo de Televisão desde que me entendo por gente. Isso inclui ter uma razoável base sobre Carnaval de escolas de samba adquirida ao longo da vida por ver as transmissões e reportagens na TV. Daí me interessei logo de cara pelo novo documentário do Globoplay, lançado nesta semana, chamado Enredos da liberdade - O Grito do Samba pela Democracia.
Em cinco episódios, a série documental fala sobre as escolas de samba do Rio de Janeiro nos anos 1980 e os enredos que foram feitos sobre a sociedade da época - especialmente sobre questões da economia e da política nacional. Ano a ano, vão contando como os sambas e desfiles retrataram e criticaram problemas sociais, peitaram a censura e a Ditadura Militar, militaram pela volta das eleições diretas e pela melhora da qualidade de vida e muitas vezes tiveram problemas por causa disso (processos, prisões, etc).
A série também mostra muito da história do Carnaval de escolas de samba no Rio. Passa pelo início nos anos 1930, o crescimento nos anos 1950-1970, a construção do sambódromo da Sapucaí, a entrada do dinheiro do jogo do bicho (algo muito explorado no excelente Vale o Escrito, recomendadíssimo), o tanto que ficou midiático e gigantesco, enfim.
Gosto muito das produções que usam imagens de arquivo, de telejornais da época, e essa série faz isso com louvor. Acho sempre muito curioso ver como se vivia no Brasil nos anos 1970, 1980, e ter tudo isso registrado e exposto com qualidade agora é maravilhoso. Enredos da Liberdade também conta com depoimentos de muitos jornalistas, sociólogos, sambistas e especialistas em Carnaval e cultura negra que explicam todos os movimentos e fenômenos pelos quais a festa popular e o Brasil passaram nestes anos. Uma aula incrível, fascinante. Deus me livre não ser brasileira e não ter contato com tudo isso. Todos os episódios estão disponíveis no Globoplay para assinantes.
🎡Roller Coaster Tycoon: Nunca pensei que fosse dar essa dica, mas aqui estou. Nos dias em que fiquei isolada com covid (sim, em pleno 2024) em janeiro, houve momentos em que eu tive muita dor no corpo e fiquei meio de saco cheio de tudo, no sentido de que não aguentava nem ler um livro, nem assistir nada. Foi então que pensei que só queria desanuviar a cabeça e me desligar da realidade. Fui atrás do meu joguinho preferido para me salvar.
Na adolescência, passei boas horas no meu computador desktop grandão e barulhento jogando Roller Coaster. O jogo consiste em montar e administrar parques de diversões. Você abre lá o terreno, recebe a missão (tipo ter 2000 visitantes no parque em um ano) e vai lá construindo brinquedos, praças de alimentação, estradas, paisagismo, lidando com funcionários, ganhando dinheiro e deixando os visitantes felizes. Eu acho extremamente divertido brincar de gerente, me sinto praticamente formada em administração.
Fazia décadas que eu não abria esse jogo (que eu jogava por um cd-rom, obviamente), mas aí fui pesquisar se ele estava disponível online. Ele está, pela plataforma Steam, por módicos R$ 5,90. Comprei e passei algumas boas horas aos 32 anos brincando de ter meus parques.
Eu trouxe o caso do Roller Coaster aqui, mas na verdade o que quero recomendar é qualquer joguinho (desde que não seja sei lá, ofensivo ou criminoso) que te faça sair da realidade dura um pouco. É claro que temos que ter moderação e noção (eu não me meto com The Sims por isso, seria capaz de passar um dia inteiro nessa merda), mas um tanto de escapismo não só é bom como também é necessário pra termos forças pra viver.
👗Vídeos de Gabb: Acho que é muito difícil viver cronicamente online neste início de ano e não ter tido contato com o conteúdo de Gabb. Elu se identifica como pessoa não-binária, então vou usar aqui pronomes neutros. Gabb é uma pessoa das modas e tem feito uma carreira com crítica de looks das famosas em eventos.
O diferencial é que Gabb tem uma voz e um humor só seus, muito peculiares e cheios, lotados de referências preciosíssimas. Se vê que elu estuda, que vê muita coisa, que tem uma bagagem cultural e social fortíssima. Eu já adorava ver os vídeos só pela diversão, mas fui completamente conquistada quando vi elu comentando um vestido da Margot Robbie dizendo: “Eu vejo Rosa Palmeirão em Porto dos Milagres, eu vejo rosas de Kátia Jannini”. Isso não é coisa de quem tá começando hoje. Quem sabe, sabe.
Eu amo também que Gabb já formou seu próprio léxico de bordões, que vão do “iconic” ao clássico HORROROSA. Tem uma gradação: “mona, o kiki, o kiki houve?”, “fica direita”, “oh my god, she’s such a beautiful girl” e “movie star” são alguns dos meus favoritos. Já incorporei ao meu dia a dia. Quando vejo alguma coisa estranha automaticamente tenho vontade de comentar “mona, o kiki”.
Fico feliz de saber que Gabb tá fazendo mega sucesso e alçando voos altos. Elu foi no último domingo ao Domingão com Huck e gongou os looks de Dona Deia, num grande momento da TV brasileira. Também anunciou esta semana que terá um programa de YouTube no qual analisará os looks de famosas, chamado Ambulância Fashion. Lançamento tá previsto pra março, a tempo de pegar o Oscar.
Esse formato de análise de looks é algo que já foi muito consumido no passado, com coisas tipo o certo/errado da Capricho, as alfinetadas do Ronaldo Ésper no programa da Luciana Gimenez e o Fashion Police com a Joan Rivers. Acho que de uns tempos pra cá o politicamente correto minou um tanto essas coisas, porque não se diz mais que tal pessoa não pode usar isso ou aquilo —o que concordo, cada um deve usar o que quiser, ser feliz assim e foda-se quem não gostar. Mas acho que Gabb traz isso de volta de uma forma divertida, valorizando a M O D A, como elu diz, celebrando o camp e também trazendo um grande vocabulário sobre como detonar um look sem necessariamente julgar a pessoa.
Apesar de que elu também tem vídeos preciosíssimos em que xinga homens (como os homens que se acharam no direito de criticar o corpo da Paolla Oliveira ou o Rodriguinho, que julgou o corpo da Yasmin Brunet). Gabb destrói esses lixos humanos sem usar palavrões, só usando muitas referências, acidez e criatividade. É a arte do xingamento. Aulas.
Na arte aleatória da semana, deixo aqui uma tirinha da Capivarinha Pantaneira. Algumas são divertidinhas e/ou fazem pensar. Mas trouxe pra cá mesmo porque eu amo capivaras e acho a personagem muito simpática.
Boa semana =)
sou viciada em Gabb. Fico horas vendo os vídeos dele. "AAAAAAAAAAAAAA"
beijos!!!
No próximo café quero muito saber mais sobre esse lance dos espíritos kkk mas tbm sou cagon* com isso