#55 - Ficção Americana, Somebody Feed Phil, palavras cruzadas online
Olá! Vem cá ver a lista de itens favoritos da semana de 26 de fevereiro a 3 de março de 2024 :)
🎥Ficção Americana: Eu entendo esse filme como uma crítica social foda e também, e principalmente, uma crítica à crítica social foda. Gostei, achei que acerta o tom ao desempenhar a complicada iniciativa de provocar e satirizar. Para quem é branco e assiste, pode dar uma variação daquele sentimento de quando se ouve funk, que é de uma mão no joelho e a outra na consciência (em diferentes níveis e perspectivas, obviamente).
Ficção Americana tem como protagonista Monk, umhomem negro intelectual, escritor, professor, um cara que gosta de coisas cabeçudas, produções de alto nível cultural (na perspectiva dele), etc. Ele tenta lançar livros mais profundos e complexos (ainda na perspectiva do que é profundo e complexo pra ele), mas não consegue, o mercado literário não compra. Até que ele vê uma escritora negra fazer muito sucesso com um livro que retrata a população negra com estereótipos cruéis, batidos, restritos e muitas vezes equivocados: violência, pobreza, situações de vulnerabilidade.
Monk, que tá passando por perrengues financeiros, entende que ele também pode escrever algo assim, só para provocar a indústria, e manda um livro bem estereotipadão para seu agente. O problema é que uma editora ama o livro, lança o livro, vende milhares e milhares de cópias. Monk se vê num grande conflito ético sobre ganhar muito dinheiro e fazer muito sucesso com algo que ele repudia completamente.
O filme vai fazendo críticas, às vezes descaradas e às vezes sutis, da sociedade, principalmente de como brancos lidam com essa questão de representatividade negra, de racismo estrutural. Tem uma cena muito boa em que uma mulher branca diz que é preciso dar espaço às vozes negras, sendo que o que ela acabou de fazer um segundo atrás foi silenciar vozes negras.
Ficção Americana também uma reflexão sobre a arte, especificamente a literatura e o cinema (enquanto metalinguagem), e o seu papel. A arte deve confortar ou provocar? Um material violento ou chocante é mesmo “necessário”? Necessário para quem? Eu pessoalmente quero morrer quando alguém diz que uma pessoa ou uma obra de arte é “necessária” ou “cirúrgica”, por exemplo, então gostei desse tipo de alfinetada sutil que o filme deixa.
As atuações são primorosas —destaque para Jeffrey Wright, o protagonista, Sterling K. Brown, Tracee Elis Ross (amo!) e Issa Rae (amo!!!!!!). Ficção Americana está indicado ao Oscar de melhor filme. Eu acho que não ganha, mas se ganhar não me supreenderá e será curioso, diante da provocação que o filme sustenta. Estreou esta semana, do nada e sem alarde, no catálogo do Prime Video.
📺Somebody Feed Phil: A primeira coisa que tenho a dizer sobre Somebody Feed Phil é: eu amo muito!!! Pra mim está no top 3 melhores séries documentais culinárias disponíveis nos streamings, ao lado de Sal, Gordura, Acidez e Calor e Street Food — todos da Netflix.
Somebody Feed Phil é um programa em que um senhorzinho, Phil Rosenthal, viaja pelo mundo provando comidas e conhecendo restaurantes e cozinheiros de cada local. Ele é um senhorzinho simpático e fofo, meio abobado mas acho que isso faz totalmente parte do carisma e do personagem. E não são características muito comuns a tiozinhos pelo mundo, então gosto dele. E ele gosta muito de comida, então é divertido de assistir. É o tipo de pessoa que minha mãe chamaria de “esfomeado”, mas eu sou assim também e me identifico.
Nesta sexta, estreou na Netflix a sétima temporada de Somebody Feed Phil, em que ele visita cidades totalmente diferentes, como Mumbai, Edimburgo, Washington D.C. e Quioto. Fico fascinada com absolutamente tudo neste programa. Phil visita lugares e pessoas com diferentes histórias em cada cidade. Em Washington, ele vai a uma pizzaria onde só trabalham deficientes auditivos, em um restaurante indiano chique, em uma lanchonete marcada por sua história com o movimento negro e em uma confeitaria bonitinha.
Em Quioto, visita uma casa de chá tradicional, prova o menu degustação de um dos restaurantes mais estrelados do mundo e visita um restaurante de um doido que faz omelete gritando (falei toscamente, mas é tipo isso). Phil come de graça, viaja de graça e faz dezenas de amigos pelo caminho. É o melhor emprego do mundo.
É uma série muito gostosinha de ver, o único problema é a vontade absurda que dá de viajar e comer em todos os lugares que ele vai (na verdade o problema é só não ter o dinheiro pra isso). Já há sete temporadas disponíveis na Netflix, e eu recomendo fortemente todas elas.
📖A Escrita Como Faca e Outros Textos: O livro mais recente de nossa amiga Annie Ernaux lançado no Brasil. A Escrita Como Faca e Outros Textos segue um formato diferente de outros livros dela disponíveis aqui. Em vez de ter um relato de Aninha sobre algum tema de sua vida (ou um relato geral de sua época, como em Os Anos), boa parte do livro é a transcrição de uma longa troca de mensagens entre ela e o escritor Frédéric-Yves Jeannet. Ele faz uma entrevista com ela, vai puxando várias questões sobre literatura, arte e vivência, e ela vai trazendo suas respostas e reflexões.
Gostei muito de como o livro é formatado e organizado. Há divisões de capítulos baseadas nos temas centrais das conversas ou frases/trechos marcantes que ela diz. Então, por exemplo, vemos o que Annie tem a dizer sobre os gêneros textuais de suas obras, sobre o que gosta ou não de ler, sobre enxergar seu trabalho como uma escrita “feminina” ou não, uma escrita “clínica e neutra” ou não. É bem interessante. E há detalhes mais íntimos sobre ela também: ela diz que adorou ler e reler Jane Eyre e diz que não se identifica muito com a obra de Marguerite Duras, por exemplo.
Eu acho que claramente é mais recomendado para quem já conhece e está familiarizado com a obra de minha querida Aninha. Pode servir também pra quem gosta de escrever ou almeja escrever mais, mas é mais para entender a mente e as motivações dessa escritora e conhecer a postura e as ideias dela sobre a literatura.
Para quem quer se iniciar no Ernauxverso, já falei aqui sobre dois dos meus livros preferidos dela: Paixão Simples e A Outra Filha. Também indico muito (muito!!!) O Acontecimento.
🖊️Palavras cruzadas online: Há meio que um senso comum sobre palavra cruzada ser “coisa de velho”, mas acho que é só lamentavelmente algo não muito presente e não muito incentivado na criação das pessoas. Eu fui uma criança introspectiva, filha única e que gostava de ler, e no meu núcleo familiar meu pai e minha tia sempre gostaram de palavras cruzadas. Consigo visualizar claramente a letra do meu pai naquelas revistinhas Coquetel. Então pra mim, desde a alfabetização, palavras cruzadas sempre foram presentes, me deram e me incentivaram a brincar disso. Nas férias, eram um hit, ao lado do Almanacão da Mônica.
No entanto, confesso que, ao longo dos anos, deixei as palavras cruzadas um pouco de lado. Acho que o fato de hoje a maioria de nós passar mais tempo online e menos com mídias físicas (gibis, revistas, jornais) foi e tem sido determinante. Mas fico feliz de ver que agora há mais opções de joguinhos de palavras online.
Além do Conexo, de que já falei aqui pouco tempo atrás, descobri que o G1 tem uma parceria com a Coquetel e disponibiliza vários jogos diários de palavras. Há duas versões de palavras cruzadas, caça-palavras, um jogo chamado Dito, que é a mesma coisa que o Wordle, o Termo, e outro chamado Soletra, que é para formar a maior quantidade que você conseguir de palavras com as letras que eles dão.
O bom é que é um joguinho por dia, então você faz lá sua cota de exercício e procrastinação e não perde muito tempo com isso, porque não tem como fazer mais. Tô curtindo, já virou parte da minha rotina diária.
Na arte aleatória da semana, escolhi o trabalho da artista Alison Friend, que faz ilustrações de cachorrinhos e gatinhos em situações humanas. Ou seja, um cachorro comendo uma pizza, um gato descascando uma mexerida. Escolhi essa arte, que lembra muito meu cachorro Joaquim.
Boa semana =)
Palavras cruzadas me leva muito à infancia/adolescencia, principalmente quando viajava pra praia, que nao tinha computador, internet, smartphone. Gostava das revistinhas que tinham de tudo um pouco: palavras cruzadas, caca palavras, sudoku. Mas online perdi o hábito, só sudoku que às vezes jogo